terça-feira, 22 de maio de 2007

PESSIMISMO

Estava sentindo-se um pouco deprimido.
E isto não era devido apenas ao fato de o Universo estar se expandindo numa velocidade estonteante sem que pudesse fazer nada para evitar a desagregação de sistema solar. Afinal de contas isto só ocorreria dali a bilhões de anos. Sabe-se lá onde estaria então, já que era ateu. Mas que algum pozinho seu restaria em sua composição, tinha certeza. Uma espécie de vingança muito insignificante, porém não deixava de ser um manifesto.
Talvez até mesmo mais válido do que qualquer manifesto que pudesse fazer nesta vida. Pudera ele ser o vírus na garganta do monstro descontrolado que teima em se queimar aleatoriamente como um animal de corpo imenso e cérebro minúsculo.
Na verdade não era bem pessimismo o que sentia, percebera logo. Tratava-se de raiva, mesmo. Um certo ódio misturado com despeito por ser tão insignificante.. Difícil mesmo era descobrir ou nomear a quem ou a quê deveria dirigir este ódio. O chato de ser ateu é não ter a quem culpar. Deveria culpar os outros homens? Não.
Por que culparia uma formiga que carrega penosamente a folha do destino nas costas? Ela sequer sabe por que está carregando a folha. Sabe apenas que tem de carregar. Todos ridículos. Homens e formigas. Deveria culpar a ele mesmo? Também não. Não tinha tanta culpa. Dentro de suas limitadas possibilidades tentou fazer o melhor que lhe era possível. Não inventou a cura dos cânceres, mas também não destruiu a fórmula da penicilina..
Não cheirava nem fedia. Nada devia, portanto. Aliás, deveria a quem, no caso?
Esteve observando tudo o quanto podia observar e percebeu que definitivamente nada fazia sentido.
Havia algo de tenebroso e malévolo entre a longevidade vagabunda do Universo e a rapidez com que colocava a corda ao redor do pescoço. Ele sempre devora a todos no fim.
Maldito seja.
Ademir Borsanelli
Da comunidade "Troca de conhecimentos"

Um comentário:

Anônimo disse...

Ficou legal com aquela apresentação do Universo lá em cima.
Thank you.